MESTRANDA ESCREVE SOBRE A RESPONSABILIDADE DO PROFESSOR!
A escola desde a sua propagação no Brasil buscou educar a criança para o convívio com os adultos e, paulatinamente, foi se adaptando de acordo com as pressões advindas do meio social, seja com os jesuítas, com o movimento higienista, ou pelos interesses políticos e sociais, se moldando às exigências advindas do campo político, social ou religioso, ora resistindo, ora se reestruturando conforme as necessidades advindas do seu meio.
Toda essa configuração da escola e, consequentemente, da função do professor foi construída em torno do aluno, visando suas peculiaridades, seus direitos e sua inserção como cidadão na sociedade. Perpassando à educação as inúmeras funções além da formação educacional, como a preparação desse aluno para o mercado de trabalho, ou ainda, da sua formação crítica enquanto indivíduo. Coube ao professor inserir além dos seus conteúdos pedagógicos, todos os assuntos pertinentes ao momento social, político e cultural, tendo a função de discutir, conscientizar ou sensibilizar seus alunos.
Entretanto, atualmente, essa configuração da escola, tem ultrapassado a finalidade educacional da mesma e tem externado outros campos da organização social, em que responsabilidades que outrora eram restritas a outrem, tem recaído quase que exclusivamente, à escola.
Atualmente, observamos que práticas simples como o respeito e a disciplina são valores que não estão mais delegados, somente, a cargo da família; assim como os cuidados com a higiene pessoal, com a vestimenta e com a postura, também, foram repassadas para o desenvolvimento de atividades na escola; os cuidados com a sexualidade da criança e do adolescente; a prevenção de doenças, epidemias e pandemias; os valores como amor ao próximo, caridade e respeito, devem ultrapassar as portas das igrejas e devem ser desenvolvidas nos projetos de ensino dos professores; os cuidados com a utilização das mídias, a preparação para o mercado de trabalho; a preservação ambiental; aquecimento global; o desenvolvimento do senso crítico sobre política e cultura; o desarmamento populacional; a não-violência; o não uso de drogas, entre outros, devem ser discutido em ambiente escolar, enfim, percebemos que a escola e, por conseguinte o professor tem abrangido algumas responsabilidades que aos poucos tem sido deixada de ser feita pela própria família, pelo governo, pela igreja, ou seja, pela própria sociedade.
A escola e o professor tem ficado como provedores, quase que exclusivos de responsabilidades que deveriam ser divididas com todos os setores sociais, acabamos por termos profissionais da educação sobrecarregados de funções que poderiam ser resolvidas ou amenizadas em outros ambientes. Aos pais, tias, avós ficam apenas o dever de remetê-lo a escola e cobrá-lo sobre seus resultados, sem questionar ou auxiliar sobre o processo por qual passam. Ao governo fica a solução de problemas sociais que acabam por também dividir com a escola.
Por fim, questionamos: é só a escola que deve ter essas inúmeras funções? E, por que não está dando conta de solucionar tantas problemáticas? Quem poderia, então, sanar todos esses problemas? Será que não estamos sobrecarregando a escola e seus profissionais da educação com um fardo tão pesado?
Podemos dizer que enquanto educadores; estamos tentando nos equilibrar na corda da responsabilidade que balança sofrivelmente entre a tentativa de amenizarmos os problemas e assumir ainda mais funções. Por mais que buscamos soluções e, é claro estamos conseguindo alguns resultados positivos, percebemos que é uma luta árdua e desleal em que nós de um lado dessa queda de braço, nos colocamos a disposição de mais uma exigência a nós delegada, por outro lado nos surpreendemos com o distanciamento que o indivíduo e a sociedade se propõem a fazer ao que tange a educação das crianças e dos adolescentes.
Enquanto professora, não me desobrigo de realizar tais tarefas, compreendo que é realmente interesse e dever da escola em desenvolvê-las, discuti-las ou aplicá-las; o que critico é justamente, o desinteresse e distanciamento do sujeito enquanto ser social, em dividir a responsabilidade dos seus, com a escola e, consequentemente com o professor.
Se não repartirmos a responsabilidade da educação de nossas crianças e adolescentes quem poderá se responsabilizar pelas falhas ou acertos do nosso adulto? Eu? Você? Eles? Eu prefiro que sejamos nós.
Nubea Rodrigues Xavier
Mestranda em Educação pela UFGD e professora da rede estadual de educação,multiplicadora do NTE Dourados MS.
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